Classe e privilégios no caso do IGC ou
A inércia do movimento estudantil[1]
Lucas “Barrão” Pereira, História – fat_lucas@yahoo.com.br
Marco “Malebria” Silva, Filosofia – malebria@riseup.net
8/4/2008
Assim, o sistema escolar pode, por sua lógica própria, servir à perpetuação
dos privilégios culturais sem que os privilégios tenham que se servir dele.
Conferindo às desigualdades culturais uma sanção formalmente conforme aos
ideais democráticos, ele fornece a melhor justificativa para essas desigualdades.[2]
O movimento estudantil está muitas vezes mais preocupado em conseguir privilégios para a classe dos estudantes do que em fazer uma discussão sobre mudanças políticas benéficas para a sociedade como um todo. Apesar de alguns pontos levantados pelo movimento surgido após o caso do IGC serem razoáveis, como a crítica à proibição da exibição do filme e à forma como a Polícia Militar agiu, a proposta do fim do convênio da UFMG com a PM nos parece bastante mesquinha.
Não entraremos no mérito da situação legal que estabelece que a Polícia Militar não pode entrar
A política do movimento estudantil é egoísta e não menos autoritária que as políticas que ataca. Ao impedir jornalistas de entrarem na ocupação da Reitoria (07/04/2008), acabaram por cometer um ato contraditório. Os estudantes conquistaram seu direito de ir e vir, de circular no espaço público – neste caso o simples direito de utilizar o espaço público da reitoria – negando-o a outros. Ora, na verdade, o que muitos estudantes não percebem é que, apesar de se revestirem por causas ditas sociais, estão lutando realmente para obter ou manter um nível de capital cultural elitizado, e que diz respeito somente ao seu intestino.
Se o movimento estivesse interessado em uma melhoria social, e não apenas na classe, se manifestaria contra a forma violenta com que a PM agiu, e não contra a presença dela no campus; lutaria para que a polícia não agisse assim em lugar nenhum: da forma como a coisa foi colocada, os estudantes estão tentando apenas proteger o seu lado visando garantir que isso não aconteça mais com nenhum estudante. Se for acontecer com um não-estudante, não importa tanto. É difícil ignorar que impedir a entrada da polícia no campus da universidade seja um mecanismo que a mantenha afastada, protegida e em um local extremamente privilegiado na sociedade.
Esse tipo de atitude classista pode ser constatada em outras ações do movimento, como o pedido de meio-passe ou passe-livre e na meia-entrada
Se realmente “polícia for para bandidos”, estamos ainda vivendo uma inércia cultural – que entendemos por uma vontade de ascender socialmente através de uma valorização da cultura letrada, cinematográfica, teatral, ou melhor, elitista, autoritária, diferenciadora.
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