Por Fernanda Ezabella, retirado do Observatório da Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=549ASP016)
"No reino das celebridades, cutucar o rei com vara curta não tem graça. Mesmo se for o ‘rei da comédia’, como vem sendo chamado o diretor e produtor Judd Apatow (‘O Virgem de 40 Anos’). E mesmo se for nos Estados Unidos, o país da imprensa livre.
Eu estava em Los Angeles, no mês passado, quando participei da entrevista coletiva de ‘Funny People’, filme de Apatow com Adam Sandler. Num sábado, jornalistas estrangeiros foram ver o longa. Na saguão do cinema, distribuíam o kit de imprensa, uma papelada com a história do filme, detalhes da carreira dos atores, os créditos de produção e o recibo da limusine de Apatow.
Como? Sim, estava lá, por engano, a ficha da limusine que levaria o diretor, às 7h15 do dia seguinte, ao hotel onde aconteceriam as entrevistas. Preço (US$ 1.375, cerca de R$ 2.750) e endereço de sua casa estavam no recibo do carro, que percorreria 12 milhas ida e volta (20km). Um táxi daria US$ 40.
No domingo, sigo para o hotel à beira-mar. Entre mesas fartas de comida e bebidas, os kits de imprensa continuam iguais. Na entrevista com diretor e elenco, peço o microfone:
‘Tem sido um período difícil com a crise financeira, os estúdios têm cortado empregos e orçamentos’, digo a Apatow e continuo: ‘É uma pergunta desagradável, mas como você justifica ter uma limusine com esse preço te pegando em casa, numa distância tão curta como seis milhas, como nos mostra aqui no material de imprensa?’
Apatow não entende. ‘O quê? Onde?’ O ator Seth Rogen brinca: ‘Uma limo foi te buscar! Mas seis milhas é longe!’
Os jornalistas riem na sala, mas não os assessores. Um deles tira o microfone da minha mão, enquanto eu tento explicar a pergunta ao diretor.
Apatow ameniza: ‘Mas eu não ligo de responder’, diz. ‘É que, após trabalhar 12, 14 horas por dia, é perigoso dirigir [...] por isso os estúdios querem assim [...]. Mas você pode me buscar se quiser, eu não ligo.’
Sem microfone, retruco: ‘Se você me pagar esse valor, eu também não me importo, ficaria feliz em fazê-lo. Mas é uma soma muito alta, não?’
O diálogo segue atrapalhado, e dois assessores me interrompem novamente. Desisto. Outra jornalista faz a última pergunta: ‘Apatow, quando você se deu conta de que deu certo?’
O diretor não perde a piada: ‘Quando consegui limusines me pegando em casa!’
A mulher de Apatow, Leslie Mann, que também está no filme, tem um chilique com os assessores. ‘Isso não é nem um pouco legal’, diz, olhando o kit. ‘É o endereço da nossa casa!’
Tento sair à francesa, mas sou abordada por uma assessora. Ela tira o kit da minha mão, enquanto os outros assessores arrancam a página ‘maldita’ dos demais jornalistas."
Folha de S. Paulo
Estúdio não se pronuncia oficialmente
"Questionada sobre as razões pelas quais impediu a jornalista da Folha de concluir sua pergunta em entrevista coletiva em Los Angeles, a Universal declarou que não se pronunciaria ‘oficialmente’. Não oficialmente, porém, a assessoria do estúdio no Brasil, comunicada da confusão por colegas estrangeiros, telefonou para a Ilustrada para se queixar da repórter e questionar a publicação do material, poucos dias depois do ocorrido.
Informaríamos que houve vazamento de um recibo? Incluiríamos os dados da nota? A reação à pergunta?
Diante das respostas positivas, a assessoria mudou de estratégia. Disse que, a partir dali, a Folha ‘poderia’ não ser mais convidada para os eventos da empresa.
Quando foi pedida uma posição da empresa, a Universal voltou atrás -disse que o jornal continuará a ter acesso às rodas de imprensa, mas que a repórter Fernanda Ezabella agora faz parte do ‘black book’ (livro negro) de todos os assessores presentes na ocasião. Seu nome poderá ser vetado no futuro.
Informada sobre a publicação desta reportagem, a empresa manteve a recusa de se pronunciar."
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