quinta-feira, 8 de abril de 2010

* Lado C

Cedê,

Há pouco o que contestar em sua mensagem sobre a qualidade da política externa do governo Lula. Se nos atemos às frases, ou melhor, gafes que são corriqueiras entre o presidente e sua equipe, acho que o cenário poderia estar ainda pior.

Porém, acho que não se pode esquecer que embargos econômicos e isolamento diplomático constrangem muito pouco as elites autoritárias desses países, que não têm nenhum problema em repassar esse fardo para sua população, especialmente os mais pobres. Por isso, não me oponho à tentativa do Brasil de aumentar as relações com esses países, inclusive, porque acredito que isso pode abrir caminhos para que esses países revejam suas práticas.

A política externa é ruim não porque se relaciona com os bad boys do sistema internacional, mas porque ela falha em estabelecer termos "democráticos" para esse relacionamento. Quando somos confrontados com a existência de governos não-democráticos e violadores dos direitos humanos devemos prestar atenção em dois pontos principais, que Lula tem esquecido:

1 - É preciso ter cuidado ao dar legitimidade de democracias a esses países. Acho que o relacionamento deve existir, mas deve estar explícito que o regime é reprovável, se possível apresentando alternativas para mudá-lo. Só porque o relacionamento existe não devemos nos calar diante dos problemas óbvios. Eles têm o dinheiro, mas ainda assim deve-se fazer críticas. (Uma ideia é usar os ganhos econômicos provenientes em programas de direitos humanos)

2 - Esse relacionamento cria custos para a nossa democracia (já tão combalida). Decidir pelo aprofundamento dessa relação deve ser debatido publicamente e basear-se em motivos justificáveis.

A sugestão de Lula que violações de direitos humanos acontecem em todos os países é ainda muito pior do que a de Bruno (do Flamengo) que se perguntou "Quem nunca saiu na mão com a mulher?" e manchou a semana das mulheres. Mas a lição que se deve tirar é que não podemos ignorar que violência (contra a mulher ou contra os direitos humanos) existem e devem ser objeto de muita discussão pública para que sejam denunciadas e provoquem uma mudança de consciência em todos nós.

Sugerir que devemos ignorar a existência de países não-democráticos e nos recusar a relacionar com eles enquanto eles assim forem, é uma atitude que já se provou errônea e com duras consequências. Por outro lado, não podemos nos permitir ser coniventes com as violações que praticam.

A política externa é uma das piores partes do governo Lula porque é a menos debatida de todas.

Abraços,
Augusto

PS: O texto foi bastante baseado neste do Dahl (https://docs.google.com/fileview?id=0B6MzgpjNnDlbYjQyNzNjODMtY2MyYi00MGQ2LWI2ZDctM2E3YzE5NGZhNWZk&hl=en)

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